Está chovendo. A chuva que de dentro de mim cai imunda, inunda o mundo inteiro, interno.
Não tem mais essa história de ‘se chove lá fora’ porque é de dentro que a chuva deságua, é do peito que ela desaba.
A chuva como água suja escorre pelos bueiros de dentro de mim. Arrasta em força a dúvida que se agarra a uma árvore qualquer, enraizada com profundidade incalculavelmente assustadora.
Dói.
Incerteza cruel escondida como criança atrás do sofá vermelho da sala bem decorada e pouco hospitaleira.
O mundo inteiro parece estar contra mim. O mundo inteiro parece estar fora de mim. O mundo inteiro. Todo o mundo. Essa gente toda. Toda aquela gente. É gente demais.
Tantas vozes. Tantos gritos. Ensurdece minh’alma. Ensurdece e emudece teus cantos. Corre para o canto e finge gritar um lamento. Rabisca o papel e compõe uma canção. Chora cantando um samba triste. Esboça um sorriso no fim do refrão.
A dor. Ardor. Amor.
Sensação aflorada. A flor do gesto. Sem espinhos. Apenas o gosto de rosa. O cheiro de prosa. O sabor de um verso, que por mais que seja inverso, continua sendo.
Desperta. Amanhece. Feio. Dolorido. Inexato.
A coberta que eu pedi não veio. Nem um simples cobertor. E eu? Eu não quero um edredom.
.Para ler ouvindo: Feio - Bia Krieger
Um comentário:
Rick, seu pocinho de talento e sentimentos lindos - mesmo que confusos! Eu leio seus posts de vez em qndo mas nunca comento, só fico filosofando aqui sozinha... mas sabe? Eu queria muito escrever como você, deixar fluir tudo de mim em palavras sem obrigação! Te admiro muito por isso, por se dar essa liberdade e por se libertar de maneira tão linda!
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