quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Vote em Mim


Estou aqui não para falar de poesia
Mas para lançar minha candidatura

Eu que não fiz parte da ditadura
Sou um homem de paz

De paz com ‘Z’
E não com ‘es’

Por favor, não confunda
Buceta não tem nada a ver com bunda

Mas vamos ao que interessa
Vim fazer minhas promessas

Sou o melhor candidato
O que eu digo é o que eu faço

E prometo para o povo do Brasil
Pro vovô, pra mocinha e pro titio

Para todo brasileiro
Da Bahia e do Rio

De Janeiro e fevereiro
E pelo resto do ano inteiro

Prometo com garantia
Muito mais que meu dinheiro

Acabar com a lei seca
Chopp saindo das tetas

Legalizar a maconha
A siririca e a bronha

Carnaval e futebol
Bacanal e besteirol

Para todo o povão
Para todo o Brasil

Pra eguinha pocotó
E pra puta que pariu

Prometo com alegria
Do Rio de Janeiro à Bahia

Que em toda casa terá
Pão, poesia e putaria!!!

domingo, 26 de outubro de 2008

Trecho do Conto: "A Menina dos Olhos"


"... Durante todo o primeiro momento em que estivemos juntos, eu tive que conter a minha inquietude e manter um ar de sociabilidade que se fazia necessário ao momento, o que era difícil, pois nos momentos em que eu achava que estava conseguindo, ouvia os gritos da menininha presa que ecoavam dentro da minha cabeça, tentando chamar a minha atenção, me pedindo ajuda, e isso me desorientava um pouco e me tirava do estado social que eu fingia estar.

Comecei a evitar olhar nos olhos dela, pois quando eu olhava não era o seu castanho que eu via, e sim a menina presa, e essa imagem me deixava um pouco perturbado, e trazia para o meu rosto uma expressão de preocupação que era clara e inegável.

A noite foi passando e com ela a minha paz. Eu precisava descobrir o sentido daquilo tudo. Quem era aquela menina? Porque ela a trancava dentro dos seus olhos? ..."


domingo, 19 de outubro de 2008

Espelho Vermelho


As coisas que você me fala
Não passam de graves
Infantilidades

Você acha que é correta
Só que é covarde
Fica achando que é adulta
E tá na puberdade

Conclusões da sua cabeça
Irrealidades
Sua mente é doente
Só tem a metade

Você não pede desculpa
Nem tem piedade
O seu lema é julgamento
E não amizade

Te vejo num espelho vermelho
Manchada de sangue
E tinta de cabelo

Me vejo num copo de vidro
Através do vinho
Pouco envelhecido


Você é a garota que acha
Que a sua razão
É o cheque da praça

E eu sou o cara que arde
A sua cabeça
Com a minha verdade

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Meu Caminhar

Caminho pela estrada
Ora escura, ora iluminada.

Caminho sem saber
Quase sempre o porque.

Caminho com paixão
Sem dureza, sem razão.

Caminho com a mente
Para os lados, para frente.

Caminho com sentido
Com desejo, com libido.

Caminho com fé
Com a mão e com o pé.

Caminho com calma
Com a paz cheia de alma.

Caminho com a vida
Sempre vencendo na lida.

Caminho com amor
E deixo pra trás toda dor

Que algum dia no meu peito se alojou
Pois aprendi, nessa minha caminhada
Aprendi nessa longa caminhada
Aprendi que o passado já passou.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O Livro


Bom, essa é a minha primeira postagem pessoal.
Afinal esse é um blog quase anônimo, ou pelo menos era, antes de ontem.
Infelizmente o programa foi muito rápido e não deu tempo de falar mais sobre o livro.
Então, quero avisar a todos, que o livro se chama: "As Histórias dos Meus Amigos" e será lançado no final do ano, aqui no Rio de Janeiro.
É um livro de contos, e vocês podem ter uma idéia de como ele vai ser, lendo alguns dos poucos contos que publico aqui no blog.

Obrigado a todos pelo carinho!

Cheiro!

Ricardo Ayade =]

Mistake no Rádio


Tudo está tão bem.
Tudo está tão bom.
Parece que as coisas
Agora começam a se ajeitar.
A vida parece tomar um rumo
Esperado por tanto tempo.
Não somente esperado
Mas plantado com força
Regado com suor
Cultivado com sensibilidade
Com coragem e com luta.
Mas eu sinto uma falta.
Essa falta que é só tua.
Que só você sabe.
Que só eu sei.
Que você finge não saber.
E que eu finjo não doer.
Era para estar tudo tão bem.
E no fundo está.
Está e vai estar.
Passou.
Passou e vai passar.
Tudo bem.
Vou descansar.
Foi só 'Mistake'
Que tocou no rádio
Enquanto eu
Já estava deitado
Quase a dormir risonho
E de um quase sonho
Me fez despertar.
Me fez levantar
Me fazendo lembrar.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Trecho do poema Ser Diverso


Sou um ser diverso

Um ser de verso
De prosa e poesia...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A Favela Enfeita o Morro

Quem disse que o meu povo aqui não é trabalhador?
Quem disse que o meu povo aqui merece tanta dor?
Quem acha que é malandro porque é filho de doutor?
Não sabe o valor desse morro que me criou.

Essa gente, esse povo, comunidade
Morro!

É trabalho, é coragem, é humildade
Morro!

Quem acha que trabalho honesto é ser deputado?
Quem acha que ta certo ver o povo humilhado?
Quem vem pedindo voto se fazendo de coitado?
Esquece que aqui no morro todo mundo é escolado.

Essa gente bonita que sobe e desce o
Morro!

Esse povo alegre que enobrece o
Morro!

Quem acha que o jazz é a música do rico?
Quem é que ouve blues para se fazer bonito?
Quem é que com a bossa acha que é muito fino?
Se lembre que o morro também tem seu violino.

Que música é essa que desce lá do
Morro?

É o samba, é o funk que engrandece o
Morro!

A favela enfeita o morro.
A favela enfeita o morro.
A favela enfeita o morro.
A favela enfeita o morro.

sábado, 4 de outubro de 2008

R$ 18,05

A fome que ele sentia aumentava e seu estômago já começava a doer. Também, não era pra menos, emendar um filme no outro sem pensar em ao menos levar uma batata frita ou um pacote de pipocas.

É, ele não gosta de pipocas. Talvez por ter usado aparelho nos dentes por muito tempo, e a pipoca realmente incomodava muito quando grudava no aparelho.

Depois que tirou o aparelho, ele achava que voltaria a comer pipoca, mas não. Quando tirou o aparelho percebeu que realmente não gostava de pipoca. Que não era só a agonia da pipoca grudada no aparelho que o incomodava, mas a casca do milho que às vezes grudava no dente ou até no céu da boca, isso sem contar quando grudava na garganta, aí sim, era um desespero, ele odiava aquela sensação de algo grudado nele. Decidiu então parar de comer pipocas. Não que nunca mais tenha comido pipocas, às vezes ele até ‘beliscava’, comia umas três ou quatro, apenas para sociabilizar, e só.

Acho que por causa desse trauma causado pela casca do milho da pipoca que sempre grudava em alguma parte da sua boca, ele desenvolveu um comportamento de não tolerar nenhum tipo de grude em sua vida. Isso em todas as áreas. É, ele tem verdadeiro pavor de grude, seja ele qual for. Ainda mais se for assim como era o grude da pipoca que bastava comer umas três ou quatro vezes para grudar. Esse tipo de grude que vem depois de comer então ele não suporta. Seja do jeito que for.

Portanto pipoca não é uma coisa que ele lembraria mesmo de levar ao cinema. Seria mais a cara dele levar uma caixa de Bis, ou melhor, várias caixas de Bis. E ele até tinha uma caixa de Bis de chocolate branco dentro da mochila, só que aquela noite ele havia deixado a mochila em casa, o que é um fato totalmente novo, já que quase sempre ele saía com sua mochila. Antes uma mochilinha bem velha, que ele ganhara na sua festa de recepção dos calouros na universidade, a qual logo depois ele abandonou. E agora, uma mochila nova, do Festival de Cinema de Cannes, com vários ‘bolsos estratégicos’ e um design especialmente francês.

Ele amou aquela mochila desde a primeira vez que a viu, num ‘escambo’, e claro que ele ofereceu tudo o que tinha levado, de maior valor, para trocar pela tão desejada mochila, suas três bolinhas massageadoras coloridas, uma verde, uma vermelha e uma azul. A mochila então era sua e ele estava radiante por isso, afinal ele ama a França, sua língua, sua cultura e claro, seu cinema. E é certo também que ele sonha em ir ao Festival de Cannes, não só como espectador, mas como participante, indicado por algum filme que ele venha a fazer.

Sim, ele é ator. Mas não só é ator, como também é roteirista, poeta, escritor, cantor e compositor. E talvez mais alguma coisa que ele ainda nem descobriu ser. É, eu também não sei como ele consegue lidar com tanta coisa ao mesmo tempo, afinal a Arte requer tempo, ela exige dedicação absoluta. É um relacionamento muitas vezes difícil, pois ela o cobra muito. Vive dizendo a ele que precisa de atenção, que precisa de novidade, que não gosta da rotina, que é pra ele se virar, que o quer só pra ela. É difícil sua vida. E quando ele pensa que está tudo bem, que a relação deles está mais tranqüila, ela se divide em tantas outras, e todas cobram ao mesmo tempo. Todas as suas faces são ciumentas, e se ele dá um pouco mais de atenção para uma, e deixa uma outra um pouquinho de lado, essa outra vem cobrar, joga tudo em sua cara e exige a atenção que lhe é devida.

Isso antes o deixava muito confuso, sem saber qual caminho tomar. Às vezes ele queria terminar a relação, com ela e com todas as suas faces. Mas logo viu que era impossível. Que mesmo que ele decidisse terminar a relação, ela não o deixaria em paz, assim como uma ex-mulher que não se conforma com a separação e inferniza a vida do seu ex-marido, ela o seguiria até o fim da sua vida, fiscalizaria o que ele estava fazendo, e sempre ia tentar se meter em tudo o que ele fizesse.

Então ele relaxou. Decidiu assumir essa relação polígama com a Arte e todas as faces que ela queira o apresentar. É, porque ela sempre o surpreende com uma novidade, que nem sempre o agrada, é bem verdade, mas como ele prefere não a contrariar, acaba tentando entender essa nova face que lhe está sendo apresentada, dedicar um tempo igual para ela e seguir nessa relação de amor incondicional.

Sim, porque ele a ama muito e só por isso eu posso compreender tamanha paciência e dedicação.

Acredito ser por esse amor a Arte que ele agüentou emendar um filme no outro, com fome, com sede e sem reclamar em nenhum momento.

Quer dizer, isso até os filmes terminarem, pois quando isso aconteceu seu estômago doía, e ele começou a ficar mal-humorado. Sim, fome e sono o deixam muito mal-humorado. Sono até que ele agüenta um pouco mais, mas fome, melhor nem encostar.

Mas tudo bem, o clima estava bom, apesar do calor, do mormaço de chuva enrustida que abafava o centro da cidade. Sua companheira de filmes era muito animada e inteligente, o que ele admirava muito, e por essas e outras ele agüentou ficar mais uns 15 minutos esperando o táxi que o levaria até o Leblon, onde encontraria amigos e comeria pizza na Guanabara. Exato, comeria, se os seus amigos não estivessem todos cansados e houvessem desistido de ficar e ali, e ainda se eles não tivessem decidido ir para casa, cada um para a sua claro.

Isso poderia tê-lo deixado chateado, mas não. Como bom sagitariano que é, deu um sorriso intenso e espontâneo e disse.

- Vocês já vão? Têm certeza?

Ao que seus amigos responderam:

- Sim. Estou cansada.

- Puxa, e eu trabalho muito cedo.

- Vou de carona.

É certo que eles estavam lá há mais ou menos quatro horas. Mas eles não estavam o esperando somente. Estavam lá juntos se divertindo. E todos já sabiam que ele só chegaria mais tarde, pois estava nessa ‘cinematona’. Mesmo assim, quase todos foram embora. Ficou apenas um colega que ainda estava animado.

Foram então no café da livraria e ele comeu um croissant de salame com queijo que estava delicioso, não sei se por causa da fome que ele estava ou porque realmente estava bom. Na dúvida, prefiro acreditar na segunda opção.

Ele continuou com fome, mas decidiu sair dali, pois percebeu que se ficasse lá, naquele clima de livraria, a tendência era seu colega sentir sono e querer ir embora, e como ele ainda queria ‘bater perna’ pelo baixo Leblon, decidiu encerrar sua conta e resumiu seu gasto em apenas um croissant de salame com queijo que custou R$ 4,30.

Saíram de lá e ele ainda estava com fome. Claro, só tinha gasto R$ 4,30 e queria estar saciado? Impossível. Pelo menos no baixo Leblon. Daí ele decidiu ir a temakeria, comer mini-cubos fritos de salmão com creme cheese. Ele havia experimentado isso uma noite antes.

Sim, ele havia saído uma noite antes com outros amigos animados para ver uma peça que era realizada numa boate e logo em seguida a pista era liberada para que as pessoas dançassem até dizer chega.

Aquela noite foi muito divertida para ele, apesar da peça não ser lá muito boa. É, não era mesmo. Pelo menos ele não gostou muito, apesar de ter achado graça em alguns momentos, não foi nada que o deixou sem ar, ou o fez se atirar naquele mundo fantasioso e tão real que é o teatro.

Pra começar, o texto não lhe agradara muito. Não sabia se porque era ruim mesmo, ou se porque os atores enrolavam muito para dizer, e por vezes pareciam estar improvisando, em algo que não era para ser improvisado, e isso estava claro. Talvez na tentativa de serem o mais natural possível acabavam por improvisar demais e a sensação que ele tinha é de que tinham perdido o ‘fio da meada’.

Na verdade a impressão que ele teve é que os atores tinham muito boa vontade, o que pra ele é muito importante, mas faltava-lhes um pouco mais de técnica. Isso porque ele acredita que a disponibilidade é essencial, o talento é fundamental, mas a técnica é indispensável. E que esse trio faz o sucesso de qualquer espetáculo, mas para isso precisam estar em perfeita sintonia.

Bom, mas isso não foi algo que comprometeu sua noite. Ao término da peça ele desceu para o térreo da boate, onde havia uma outra festa. Havia um cara tocando guitarra e fazendo samplers com sons já gravados. As pessoas do térreo eram mais velhas, o que pra ele era ótimo, pois ele sempre se deu muito bem com pessoas mais velhas. O cara da guitarra tocava rocks antigos e tinha uma voz muito bonita e afinada. Outro cara surgiu e começou a cantar também. Era um homem calvo, dono de uma agência de turismo. Os dois cantores eram muito carismáticos e juntos conquistaram a platéia, formada por amigos dos dois, e ele e seus amigos. Ele então decidiu ficar ali. Encostou no bar e quebrou um jejum de cerveja de alguns meses. É, ele não gosta de cerveja. Não lhe agrada o sabor.

Enquanto tomava a cerveja o cantor perguntou quem cantava na platéia, ele ficou quieto, porém uma de suas amigas falou em alta voz:

- Ele aqui. Ele canta. Canta e canta muito bem. Tem uma voz linda.

Nesse momento ele já procurava qualquer buraco que fosse para enfiar a cabeça, no sentido avestruz da frase. É, ele é tímido, apesar de muitas vezes não parecer, nem um pouco.

Ele tentou desconversar, mas não teve jeito. Foi arrastado para o palco e teve que cantar. O músico o perguntou:

- O que você quer cantar?

- Eu prefiro mpb.

- Hum.

- Vi você tocando só rocks antigos, eu não sei cantar muito esse estilo.

- Tudo bem, pode ser mpb.

- Hum, então diz uma que você saiba tocar.

- Pode ser qualquer uma.

- Pode ser uma do Caetano Veloso.

Ele ama o Caetano Veloso. Apesar de nunca ter ido a um show, nunca tê-lo conhecido, nem sequer tê-lo visto pessoalmente. Ama talvez por ter crescido ouvindo as suas canções, junto com as de Gil, Gal e Bethânia.

Sim, ele é baiano e sua bagagem musical foi totalmente influenciada pelo movimento tropicalista e também por Novos Baianos.

Claro que ele conhece, respeita, entende e gosta de bossa nova e samba, mas para ele, nada se compara ao tempero musical baiano.

- Pode sim, claro. ‘Sampa’?

Respondeu o músico, ao qual ele disse:

- ‘Sampa’ é lenta. Vamos uma mais animada. Que tal ‘Gatas Extraordinárias’?

- Ótimo!

Ele pegou o microfone e um pouco tímido cumprimentou a platéia de forma que a platéia não percebesse sua timidez. Estampou um sorriso meio ‘cara de pau’ no rosto e foi. Deu certo. Ele havia cantado, as pessoas haviam gostado e ele estava inteiro. Digo isso porque sei que ele é tímido para cantar, e tenta criar personagens como faz no teatro. Esse personagem ‘cara de pau’ deu certo.

A noite anterior havia sido uma alegria, apesar da imensa chuva que caía, quase um temporal, ele havia se divertido bastante, o que seria pouco provável para uma noite bastante chuvosa no Rio de Janeiro.

Já essa noite ele estava meio cansado. Seus amigos foram embora, ele estava com fome, mas mesmo assim se divertiu. Conversou com seu colega sobre os filmes que tinha visto, sobre a sua relação com a Arte, contou uma porção de besteiras, piadas e coisas engraçadas, que fizessem seu colega sorrir. Ouviu seu colega falar sobre coisas com e sem importância, mas que eram bastante divertidas, e também sorriu bastante. Comeu seus mini-cubos fritos de salmão com creme cheese regados em muito molho teriyaki, que para ele estavam deliciosos, e dessa vez sem sombra de dúvidas, tomou um refrigerante, pediu a conta e adicionou ao seu gasto daquela noite, mais R$ 13,75.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Saudade Menina


Saudade menina

Da casa da Dinda
Vovô e Vovó
Da simples rotina.

Os olhos cheios
A mente vazia
Dos medos, dos modos.
Ê vida vadia!

Os pés na grama do quintal
A terra molhada esfria.
No calor de quase 50 graus
Tomar um banho na pia.

Mamãe trabalhando
Traz uma surpresa.
Irmão e irmã
Sentados à mesa.

Essa vida normal
Cheia de harmonia
Casa de quintal
João e Maria.

O cheiro da chuva
A terra macia
O corpo no mundo
Linda sintonia.

Levo no peito um rio
Rio para a vida
Ando, corro, grito
Brinco, solto pipa.

Barquinho na chuva
Correr de cachorro
Balinha de uva
Docinho de coco.

Pé de seriguela
E de carambola.
Menino magrelo
Que não joga bola!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Seriguela Madura


Ela era uma mulher de cerca de 40 anos, corpo bem desenhado. Uma coroa com tudo em cima, como se diz por aí, melhor do que muita menininha de 20 que tem hoje em dia. Passava sempre em traje de trabalho, mas que denotavam bem suas qualidades físicas e seus belos atributos curvilíneos. Nunca passava acompanhada, a não ser de si mesma. Aliás, ela estava sempre muito bem acompanhada de si mesma.

Todo dia ela passava por aquela esquina e nunca o notava. Mas ele sempre esteve ali. Sentado num banquinho de madeira velho, gasto pelo tempo. Com seu boné virado para trás e sua barba sempre por fazer. Ele estava sempre ali, com suas havaianas brancas que de tão encardidas pareciam ser bege. Ele usava quase sempre uma bermuda jeans, com um rasgo na perna esquerda, também provocado pela velhice do tecido. Ação do tempo. Tudo é tempo.

Quando não estava com sua bermuda jeans surrada, usava bermudas do estilo surfista, mas todas também com aspecto de velhas, não eram sujas, e sim velhas. Ele estava lá todos os dias, e por mais que ele mudasse as camisetas diariamente, ela não o notava.

Talvez pela pressa com que sempre passava ali, pois sempre que passava o sinal estava quase abrindo, e ela quase sempre corria para atravessar a rua, sem olhar muito pros lados. Talvez porque passava sempre com o seu somzinho ligado e o seu fone de ouvido potente fazia com que o som penetrasse o seu cérebro, desconectando-a do mundo ao redor e trancando-a em seu próprio estúdio, onde ouvia cada música como se estivesse num show particular. Ou ainda porque talvez ela simplesmente nunca o tinha notado mesmo. Assim, sem mais, simplesmente porque não notou. Vai ver ela não era de notar ninguém mesmo. Simplesmente saía de casa, fazia o que tinha de fazer e voltava. E voltava quase sempre tão cansada que também na volta não tinha o menor ânimo de perceber ninguém que a olhasse, mesmo que todos os dias isso se repetisse. É, ‘da repetição se faz a comédia’, já dizia alguém que esqueci agora. E realmente parecia comédia aquela situação.

Todo dia ele inventava coisas para chamar a atenção dela. Um dia comprou uma camisa verde-cana. Noutro dia foi com uma rosa-choque. Num outro dia usou um alto-falante para vender. Pintou o cabelo de vermelho. Deixou a barba crescer. Usou roupa nova. Trocou a bermuda velha. Foi trabalhar de sapato. Comprou uma corrente de prata. Tirou a camisa. Cortou o cabelo. Raspou a barba. Quase tira a bermuda. Nada funcionava. Ela simplesmente não o olhava. E não era por maldade. Apenas não olhava. Nem ele, nem ela e nem eu mesmo sabia porque ela nunca o percebera.

Os dias passaram, choveu, fez sol, nublou, trovejou, o sol voltou, ventou, as folhas caíram, e foi num dia assim, em que as folhas caíam, que ela simplesmente o notou. Assim, como num piscar d’olhos, como que se acordasse de uma sessão de hipnose, assim, de repente, ela o viu.

Era apenas uma tarde comum na vida dele. Ele continuava lá, sentado no seu banquinho velho de madeira gasta pelo tempo, com sua bermuda jeans rasgada, sua havaiana branca encardida quase bege, seu boné pra trás e sua barba por fazer, quando ela chegou.

- Boa tarde.

Ele se virou. Estava entretido conversando com o colega chaveiro que tem uma barraca ao lado da sua banca.

- Boa tarde freguesa.

Respondeu no automático, ainda se virando. Parou. Seus olhos cresceram. Encheram-se de um brilho intenso que ele jamais achou que se encheriam. Ficou quieto. Não conseguia disfarçar. Sua mão tremeu, suas pernas suaram por dentro da bermuda quente. Sentiu um frio percorrer todos os poros do seu corpo, seguindo-se de um arrepio que deixou todos, eu disse todos, os fios de cabelo do seu corpo em pé.

- Nossa, seriguela! Nunca pensei em ver seriguela aqui!
- Nem eu. Nunca pensei em vê-la aqui.
- Ham?
- Digo, ver a seriguela aqui.

Ela sorriu. Ele desengonçado tentou não demonstrar. Ela gostou. Ele não acreditou.

- Quanto custa?
- Nada!
- Como?
- Quer dizer, por que a senhora não leva umas pra experimentar primeiro, se gostar aí pode comprar.
- Sério?
- Sim.
- Você faz isso sempre?
- Não, não. Mas como é a primeira vez que temos a senhora, digo, a seriguela aqui na minha humilde banca.
- Tudo bem!
- Tudo bem?
- Sim. Já entendi.
- Já entendeu?
- Sim. Eu aceito.
- Aceita?
- Sim, aceito.
- E quer hoje?
- Sim, agora.
- Agora?
- Sim, não pode ser agora?
- Claro que pode. A hora que a senhora quiser.
- Então se for agora vai ser ótimo.
- Sim, só se for agora.
- Mas tem uma coisa.
- Claro, uma coisa. Que coisa?
- Eu só vou querer se você parar de me chamar de senhora.
- Ah! Me desculpe, é que eu não sabia se você era casada ou não, então não quis parecer desrespeitoso.
- Não sou casada.
- Ufa.
- Não se preocupe.
- Que ótimo.
- Ótimo?
- É.
- O quê?
- A seriguela. A seriguela está realmente uma delícia.
Ele tenta disfarçar comendo uma seriguela desajeitado.
- É, está com uma aparência ótima.
- Você notou?
- Sim, claro. Deve estar no ponto.
- Sim. Está no ponto.
- Hummm. Deve estar uma delícia.
- Madura assim, com certeza é uma delícia.
- Você gosta de comer as maduras?
- Ô, se gosto.
- E você come muito?
- Ô, se como.
- Não enjoa não?
- De jeito nenhum.
- Não prefere as menos maduras?
- Sabe que não?
- Mas elas também são boas.
- Sim, são. Mas o suco das maduras é bem mais gostoso.
- Você acha?
- Ô, se acho.
- Sabe que eu gosto muito quando é assim ‘de vez’.
- Ah é?
- É.
- E por quê?
- Gosto quando é mais dura.
- Ah é?
- Sim.
- É, está mesmo mais dura.
- Ta vendo?
- Ô, se tô.
- Mais dura é melhor pra saborear.
- É?
- Sim. Eu acho.
- Que bom então.
- Por quê?
- Por nada.
- Ah! Fala.
- Melhor não.
- Tem mais durinhas aí?
- Ô, se tenho.
- Adoro quando é dura.
- Bom saber.
- Vai esconder de mim é?
- O quê?
- Ué, as duras que você falou que tinha.
- Se você quiser, posso mostrar.
- Mas claro que quero.
- Mas é que não posso agora.
- Hum, você ta escondendo o jogo hein rapaz.
- É que vou preparar umas bem duras para você.
- Hum. Que delícia.
- Vai ser.
- Vamos fazer assim. Eu vou levar as madurinhas agora.
- Sim.
- Mais tarde quando você tiver preparado as mais duras, você leva pra mim.
- Ô, se levo.
- Eu moro ali no 305.
- Eu sei.
- Sabe?
- Modo de dizer.
- Então pronto, vou fazer um suco da madura para você beber quando for.
- Adoro o suco da madura.
- E quando você chegar eu chupo as mais duras.
- Com certeza.
- Então ta. To esperando lá.
- Pode esperar.

Ela sai. Ele fica sem acreditar. Porém nos seus olhos se vêem as imagens que irão acontecer logo mais.
Ela se vira, andando, e grita:

- Vê se não fura hein.

Ele sacode a cabeça fazendo sinal de sim e respondendo baixo:

- Ô, se furo!

Vinheta Babylon

Em ‘Babylon’ tudo é diferente
Até os jardins são altamente.

Recheados de frutos reluzentes
Que produzem um suco muito quente
Que é bebido por toda sua gente
Pois renova seu corpo e sua mente.

Em ‘Babylon’ tudo é altamente
Diferentemente mente diferente!