A chuva derrama sobre a minha cabeça uma enxurrada de coisas sem nenhum sentido e eu simplesmente não consigo enxugar os cabelos.
Penso ser feito de algum material completamente solúvel e me protejo do que vem contra mim, seja em forma de vento, de tempestade ou de brisa.
Me tranco em mim, como água que quer virar gelo se tranca no freezer, e só saio depois de passado certo período de tempo, necessário ao meu completo endurecimento.
Saio do casulo e me derreto no caminho dos calores alheios, dos olhares que me desejam e das bocas que querem me beijar.
Na taça de vinho me enxergo nítido, vermelho e denso, como o próprio líquido que escorre pelos meus dentes e que a minha língua saboreia tão prazerosamente!
Olho pela janela e vejo um mar de água vinda do céu invadir o oceano, deixando na areia as marcas de suas pegadas.
Tenho pensamentos incontroláveis que invadem a minha mente com a força de ondas ressaquiadas e marcam a minha vida como tatuagens feitas em brasa.
E são tantas as incertezas que no momento essas são as únicas certezas que realmente possuo.
Me alago num poço de dúvidas antigas e dívidas novas e me divido entre o que mostro de fato e o que sou de feto.
E em tudo que sinto não há errado ou certo, apenas acessos, excessos, sucessos e insucessos de todos os meus afetos.
2 comentários:
Que graça haveria em nossa vida sem os nossos afetos? Deixa chover, deixa... logo mais o sol se abre!
Adorei!
"...que mostro de fato e o que sou de feto."
Bela prosa poética, Rick. :)
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