sexta-feira, 16 de abril de 2010

Lunático

Dentro de mim canta um lunático.
Ele grita enquanto eu escrevo silêncios.
Ele está nu, está solto, e dança.
Músicas que brotam das nascentes do seu subconsciente.
Sacode os cabelos enquanto dorme.
Alisa a barba e sonha cenas de cinema.

Eu o vejo pulando de dentro daqui.
Eu o vejo correndo e voltando pr'aqui.
Ele gira em torno de tudo e nunca se prende a nada.
Abre as janelas de dentro e enxerga ainda mais profundo,
E ao redor ele vê tudo aquilo em que não se encaixa
E que as pessoas comuns costumam chamar de mundo!

Odores

Eu falo das cores
Eu vivo de amores
De todos que vêm
De todos que vão

Eu vivo tão cheio
Eu vivo tão só
De nenhum vazio
E tanta solidão

Comparo as cores
Com os meus amores
Não falo das flores
Mas dos seus odores

Cada cor que pintou
Cada amor que vingou
Cada cor que apagou
Cada amor que acabou

Toda cor um amor
Todo amor uma dor
Toda dor, como cor
Me colore de amor!

Eu quero!

Coisa mais desejada
Lisinha, magrinha
Melhor molhadinha
E sempre perfumada!

sábado, 10 de abril de 2010

Saber Ser

Falo tanto de amor.
Falo tanto e nada sei.
Falo tanto e nada amo.
Falo tanto e nunca calo.


Só falo. Só. E sempre só.
Falante, só e errante.
Errando ao vivo
Para quem quiser ver.


Escrevendo o que falo
E de fato não vivo.
Amo de um jeito
Que ainda estou descobrindo.


Amo de quase todas
As formas possíveis.
Mas ainda me falta
Aprender a ser.


Saber amar é fácil.
Difícil, é saber ser amado!

terça-feira, 6 de abril de 2010

Afetos

A chuva derrama sobre a minha cabeça uma enxurrada de coisas sem nenhum sentido e eu simplesmente não consigo enxugar os cabelos.

Penso ser feito de algum material completamente solúvel e me protejo do que vem contra mim, seja em forma de vento, de tempestade ou de brisa.

Me tranco em mim, como água que quer virar gelo se tranca no freezer, e só saio depois de passado certo período de tempo, necessário ao meu completo endurecimento.

Saio do casulo e me derreto no caminho dos calores alheios, dos olhares que me desejam e das bocas que querem me beijar.

Na taça de vinho me enxergo nítido, vermelho e denso, como o próprio líquido que escorre pelos meus dentes e que a minha língua saboreia tão prazerosamente!

Olho pela janela e vejo um mar de água vinda do céu invadir o oceano, deixando na areia as marcas de suas pegadas.

Tenho pensamentos incontroláveis que invadem a minha mente com a força de ondas ressaquiadas e marcam a minha vida como tatuagens feitas em brasa.

E são tantas as incertezas que no momento essas são as únicas certezas que realmente possuo.

Me alago num poço de dúvidas antigas e dívidas novas e me divido entre o que mostro de fato e o que sou de feto.

E em tudo que sinto não há errado ou certo, apenas acessos, excessos, sucessos e insucessos de todos os meus afetos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Fim.

Eu sei que não me apaixonei.

Sei também que não é minha culpa
A gente não ter se acertado
De uma vez.

Eu juro que quis tentar
E de tanto querer, tentei.

Tentei por uma semana,
Por duas semanas
Por mais de um mês.

Previ no início, o fim.

Quando vi que era preciso tentar
Também percebi que não ia adiantar
E no fundo eu já sabia como ia acabar.

Acabou!

Volto à primeira linha
Leio tudo novamente
E mais uma vez 
No início, já conheço o fim.

Vai acabar.

Fim.