Esse é apenas mais um aniversário que passo longe de casa. Longe da minha casa. Que eu nem sei mais onde fica. Talvez ela esteja perdida entre algum lugar entre uma infância e um futuro que eu nem sei se existirá. Futuro esse que eu espero há anos e que ainda me parece tão incerto.
Eu, que achava que aniversários deveriam ser feitos só de alegrias, descobri que desassossegos também fazem parte. E são tantos que parecem não conter num ano só.
Ano passado eu comemorei (na data exata) como se nada fosse mais importante do que a minha vida e enquanto eu tomava café da manhã com os amigos num café de livraria, após uma noite cheia de aventuras e tortas alegrias, um amigo sofria um grave acidente de moto e morria em uma estrada chuvosa da Bahia.
Toda a alegria terminou com uma notícia que transformou a minha euforia em profunda tristeza e introspecção apática e pouco criativa!
Felicidade e dor caminhando juntas. Chegando uma após a outra. Interrompendo o que mal tinha começado. Cortando pelas raízes os planos de tantas vidas que interligavam-se àquela única e especial vida. E como tudo aquilo afetara a minha própria vida, que de distante, só tinha a quilometragem que me separava geograficamente de tudo aquilo que se sucedera e de todos os seus sofríveis personagens que eu, penso que sem muito sucesso, tentei de longe confortar!
Gil era um menino. Vinte e poucos anos, no auge dos seus sonhos e das suas conquistas. Tinha uma linda namorada, que é uma das minhas grandes amigas e que convive com a perda entalada nas suas entranhas. Convivência aparentemente sustentável. Suportando exclusivamente por depositar toda a sua fraqueza em DEUS e Dele receber a força sobrenatural que a faz seguir em frente. Ele também era irmão de outro grande amigo, a quem eu tenho muito carinho, e com esse, eu da minha distância geográfica, consegui esboçar algumas poucas palavras por celular. Eu não tinha muito o que dizer. Mas talvez fosse bom apenas dizer que eu não tinha o que dizer.
Foram assim os meus 25 anos.
Ontem, véspera do meu 26° aniversário, acordei com a notícia de que um grande amigo havia falecido. Não menos coincidentemente, ele também fora vítima num acidente de carro numa estrada baiana.
Zé nos deixou menos cedo que Gil, mas com uma dor igual ou maior. Ele era padre. Aliás, eu posso dizer que ele era o meu único amigo padre. Ele fez com que eu respeitasse os padres, porque ele era diferente. Ele era uma pessoa. Eu o chamava de ‘sacana’, e ele adorava, se acabava em risos. Tinha no olhar um brilho especial de amor ao próximo. Zé era o meu amigo padre, que tomava vinhos e caipiroskas comigo. Que conversava besteira. E que sempre estava de bem com a vida e tinha boas palavras para dar!
Zé nos deixou menos cedo que Gil, mas com uma dor igual ou maior. Ele era padre. Aliás, eu posso dizer que ele era o meu único amigo padre. Ele fez com que eu respeitasse os padres, porque ele era diferente. Ele era uma pessoa. Eu o chamava de ‘sacana’, e ele adorava, se acabava em risos. Tinha no olhar um brilho especial de amor ao próximo. Zé era o meu amigo padre, que tomava vinhos e caipiroskas comigo. Que conversava besteira. E que sempre estava de bem com a vida e tinha boas palavras para dar!
Em pouco tempo que convivemos, de fato foi pouco tempo, aprendi lições que tenho certeza, levarei por toda a vida. Ele foi um daqueles grandes amigos que se faz num fim de semana e no outro já é seu melhor amigo e já conhece tanto de você que nem é preciso dizer mais nada. Zé me ajudou a me ver de uma forma como eu talvez nunca tivesse me percebido e a me respeitar como eu sou! Ele jamais me julgou, apesar de todo o peso católico burro e julgamentista. Zé estava acima disso.
Agora como eu posso simplesmente comemorar sabendo que Zé estará sendo enterrado enquanto eu estou cantando ‘parabéns’?!?
Tenho saudade dos meus aniversários da infância, aqueles dos quais eu nem lembro. Aqueles nos quais estávamos todos juntos. Onde ninguém disputava. Onde ninguém que não gostasse de mim estaria na minha festa. Onde havia mais motivos do que só um aniversário para se comemorar. Onde ninguém brigava. Onde ninguém morria.
E mesmo com tudo isso, celebremos a vida, pois ela é dom de DEUS!